A raça Holandesa possui características marcantes quando trata de produção de leite e sua história tem início há mais de 2000 anos.
A Raça Holandesa (Holstein-Friesian) é uma raça europeia (Bos taurus taurus) especializada na produção de leite amplamente utilizada no mundo, sendo conhecida por ser a maior produtora de leite em volume. A raça é muito popular internacionalmente, sendo bastante utilizada no Brasil, especialmente em direção ao Sul do país. Este texto traz um pouquinho da origem, história e características da raça.
Acredita-se que ancestrais primitivos dos animais que existem hoje eram domesticados há mais de 2000 anos nas terras planas e pantanosas do Norte da Holanda e Oeste da Província da Frísia. A principal característica da raça a princípio era o padrão malhado, com manchas, em sua maioria pretas, sobre uma base branca e aptidão leiteira, mesmo em uma época em que não havia raças, seleção, e nem animais especializados em uma determinada função. Logo a raça passou a ser selecionada como de dupla aptidão e os criadores buscavam por animais da pelagem preta e branca.
No século XIX, o gado da Frísia havia estabelecido a pelagem preta e branca e já apresentava um grau de conformação condizente com maiores produções de leite, enquanto nas outras províncias o rebanho apresentava grande variabilidade. Foi então que aumentou a demanda por importações de gado, surgindo a necessidade de uma criação mais controlada e o abandono dos cruzamentos, o que provocou a fundação do primeiro Herdbook em 1879.
Uma considerável confusão a respeito deste gado malhado, que se originou na Holanda, foi causada por frequentes mudanças de nome feitas à medida que a raça foi sendo importada por outros países. Em sua região natal, a raça sempre foi chamada pelo nome Friesian ou Zwartbont Fries-Hollands que na tradução ao português seria Holandês Preto e Branco. O nome Holstein, como a raça é conhecida internacionalmente, segundo diversos autores, não seria correto.
Quando o gado da raça foi importado para a América do Norte houve um mal-entendido e acreditou-se que os animais provinham de um local chamado Holstein. Entretanto, não há um local na Holanda com este nome. Este é o nome de uma província alemã (Scheleswing-Holstein) de onde apenas uma pequena parte dos animais importados provieram. A maioria (95%) das exportações de gado da raça foram do Norte e do Sul da Holanda, inegavelmente o berço da raça.
Fonte: ROUSE, J.E. World Cattle.
Uma vez na América do Norte, os animais passaram a ser selecionados e se especializaram na produção leiteira, tornando-se animais mais altos, longilíneos e angulosos. Em certas fazendas foram realizados cruzamentos absorventes para o aumento do rebanho Holstein que passou a ser muito apreciado nos EUA e Canadá. Os rebanhos de base para estas cruzas eram, em sua maioria, das raças Shorthorn, Ayrshire, Pardo Suíço e Canadiene.
Nos EUA, a associação para gado Holstein (Holstein Breed Society) foi fundada em 1872. Outra associação destinada ao gado Friesian (Dutch Friesian Society) foi fundada em 1877, no entanto, as duas associações foram fundidas em 1885 como Associação Holstein-Friesian.
Em 1970 o gado passou a ser chamado apenas de Holstein. O nome Holstein, que a princípio era um mal-entendido, acabou por se fixar, sendo hoje o mais utilizado quando se refere à raça internacionalmente.
Atualmente, as linhagens norte-americanas dominaram a maioria das linhagens Friesian da Europa, as mesmas que lhe deram origem. Buscando aumentar a produção de leite e devido a uma mudança na preferência dos criadores, que agora buscavam animais mais altos, refinados e especializados, Holanda, Grã Bretanha e muitos outros países passaram a importar animais e sêmen das linhagens norte-americanas e utilizar esta genética em seus animais Friesian. Este “retorno genético” começou a ocorrer cerca há de 50 anos e passou a ser conhecido como “Holsteinização” (Holsteinization) da Europa.
No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH, 2015) constam em dados históricos que o gado holandês foi trazido nos anos de 1530 a 1535, período no qual o Brasil foi dividido em capitanias hereditárias. A Associação foi fundada em 1934 pelo senhor Bento Sampaio Vidal. Em 1935 começou a funcionar o Herd-Book oficial no qual mais de 2.500.000 animais foram registrados no país desde então.
Por ser uma raça que possui o clima frio como origem, a exigência dos animais quanto ao clima são altas e a adaptação à climas mais quentes, como os do Brasil, é mais difícil. Entretanto, a raça é muito utilizada como matriz em cruzamentos, com a intenção de transmitir o gene expressivo de alta produção para as novas linhagens. A temperatura crítica, sob a qual cai o consumo de alimentos e a produção de leite, está na faixa de 24 e 26º C para a raça Holandesa.
Mesmo com suas exigências a respeito de clima e temperatura, os animais da raça Holandesa fazem parte da maior parcela de material genético importado para o Brasil, melhorando os índices de produção de leite no país.
Sua produção pode variar de acordo com manejo e sistemas de produção. As vacas Holandesas lideram os mais diversos rankings; em alguns casos podendo atingir mais de 50 litros de leite em um mesmo dia, em cerca de 3 ou 4 ordenhas. Com seu leite apresentando baixo teor de gordura, os dados médios são de 6 a 10 mil kg, em 305 dias de lactação.
Vale lembrar que para rebanhos de alta produção, é sempre importante estar atualizado a respeito de estudos sobre as raças, investir em instalações, práticas nutricionais e manejos cada vez mais tecnológicos com o intuito de melhorar os índices de produção leiteira.
Autor
José Victor Isola – Zootecnista e membro da Comissão Jovem da Raça Holandesa/RS
Otimizado por: Stephanie Gonsales em 22/01/2021
Referências
ROUSE, J.E. World Cattle. University of Oklahoma Press, 1971. v.1. 485p.
PORTER, V. Cattle: A Handbook to the Breeds of the World. London: Cristopher Helm. 1991. 400p.
FRIEND, J.B. Cattle of the World. Pool: Blandford Press. 1978.198p.